Diário de Piracicaba, de 11 de novembro de 1964 (quarta-feira)
A capa no jornal “Diário de Piracicaba”, da edição de 11 de novembro de 1964, traz uma nota explicativa, intitulada “DIÁRIO DE PIRACIABA DEIXARÁ DE CIRCULAR”, com o seguinte teor: “Infelizmente, chegamos à conclusão de que baldados serão daqui para à frente nossos esforços no sentido de continuarmos a circular normalmente dependendo da feitura de nossas edições fora de nossas instalações, que se localizam na área interditada em consequência do desabamento do prédio da Comurba. Assim, muito a contragosto, de amanhã em diante o Diário de Piracicaba deixará de circular, só voltando a faze-lo quando tivermos condições de trabalho em nossas próprias oficinas e redação. Uma vez mais apelamos para os nossos assinantes e anunciantes, certos de sua compreensão por uma situação determinada pela catástrofe que está afetando a mal de toda a cidade Reiteramos nossos agradecimentos a todos quantos nos têm ajudado nesta emergência difícil.
A manchete em destaque, na capa, tem o seguinte título “EVACUADA TODA A ÁREA ADJACENTE AO PRÉDIO SINISTRADO – Aguardado o comparecimento de equipe do Instituto de Pesquisas Tecnológicas”. Na matéria consta que até o encerramento da edição, as 22h do dia anterior, os técnicos ainda não haviam chegado em Piracicaba. Consta também, por determinação das autoridades, a área adjacente foi evacuada, em virtude de “estalos observados no prédio fatídico”.
Também na capa, as seguintes notícias sobre o tema:
REUNIÃO DO CCE: SOCORRO AS VÍTIMAS DA CATÁSTROFE – tratando da reunião do Conselho Coordenador das Entidades, na qual estiveram presentes 28 entidades.
JURAMENTO À BANDEIRA SEM FESTIVIDADES – “O 2º sargento Ronaldo Cavalcanti da Silva, instrutor do TG (tiro de guerra) 36, está comunicando que, por motivo de lutuoso acontecimento de sexta-feira última, foram suspensas todas as festividades já programadas, havendo apenas internamente, na sede do TG 36, o ato do juramento à bandeira dia 13, às 16h”
CONSTITUÍDA COMISSÃO PARA COORDENAR TRABALHOS NA ÁREA SINISTRADA - “(...) foi constituída uma comissão para a coordenação dos trabalhos, sob a presidência do prefeito Luciano Guidotti e integrada pelos srs. dep. Domingos José Aldrovandi, dr. Raul Coury, cap. Evandro Martins, cap. Hernani Benedito de Tolosa, cap. Pedro Corlatti, inspetor Ubirajara Martins, Lelio Ferrari, dr. Felisberto Pinto Monteiro, Benedito Rebello, dr. Reinold Clark Alvarez, dr. Adyr da Costa Romano, Umberto Capellari e dr. Carlos Morais Toledo”
SEPULTADAS MAIS CINCO VÍTIMAS – Consta a informação do sepultamento de 5 vítimas da tragédia, no dia anterior, sendo que duas delas “desceram a sepultura, embora suas identidades não fossem conhecidas”. As outras três vítimas sepultadas são José Carlos Botão, Benedita Silva e Lázaro de Oliveira Campos.
Na capa, tem-se também matérias não relacionadas com a tragédia do Comurba, como o novo preço da gasolina, a candidatura de Lacerda e uma pequena nota intitulada “Quem Perdeu?”, que informa ter sido encontrada uma caderneta de identidade de estudante de Lucila Libório, da Escola Industrial, que tal pode ser procurada na redação do jornal.
Em uma página subsequente uma matéria se destaca, com o seguinte título: UMA FOLHA DE PAPEL ALMAÇO ME SALVOU A VIDA”, nela a estudante Teresa Tonon ressalta: “Encontrava-me em meu quarto na pensão da rua Prudente, terminando uma tese para a cadeira de Economia Política. Aconteceu que esgotaram-se as folhas nas quais batia o referido trabalho. Como ainda faltava alguma coisa a acrescentar na tese, convidei minha colega de quarto Ramires Barman Aguiar, também estudante, procedente da cidade de São José dos Campos. Minha colega negou inicialmente a sair. Depois insisti mais um pouco e, finalmente, ela ascedeu ao convite, isso às 13:30. Fomos comprar as folhas necessárias, na Livraria Brasil. Retornamos pela praça, passando pela fonte. Estávamos na calçada do jardim, defronte ao Cine Plaza, e quando íamos atravessar a rua olhei para cima e vi o último andar do prédio fazer um movimento. Inicialmente pensei que era minha vista. Depois o prédio novamente fez movimento, lento, caindo as lajes, umas sobre as outras. Vi até a segunda laje, depois corri para o centro da praça, sendo que minha colega correu também sem saber do que. Quando estava fugindo recebi uma tijolada no braço direito. Caí ao chão, mas fui me arrastando procurando fugir de outros objetos que caiam nas minhas proximidades. Graças a Deus, escapei ilesa” A estudante também discorre sobre os acontecimentos de outros ocupantes da pensão. “A entrevistada nos informou que junto com o estudante que pereceu na pensão se encontrava um outro de nome Marcos. Este, no entanto, foi alertado pelo estudante que pereceu e saiu na janela para ver o que era aquele barulho estranho. O Marcos recebeu um pedaço de cimento no peito e caiu entre um sofá e uma cama, caindo sobre os móveis uns ferros, os quais deram cobertura ao jovem que escapou sem um ferimento, a não ser o objeto no peito. Contou-nos ainda que o dono da pensão, o sr. Dino, se encontrava na cozinha. Ficou encostado na parede da cozinha e viu quando o forro com o peso dos restos do prédio da Comurba, foi descendo lentamente. O sr. Dino ficou paralisado, e o forro foi descendo até que quando chegou a altura da cabeça do proprietário da pensão o forro parou”
Na mesma página, outras notícias relacionadas ao tema Comurba:
COLSAN ENVIOU 50 FRASCOS DE SANGUE A PIRACICABA
ADIADA A FESTA DA SEDA
CURIA DIOCESANA – Missa em sufrágio das almas das pessoas vitimadas na catástrofe da Comurba.
TERMINOU ONTEM O CENSO ESCOLAR – Catástrofe de Piracicaba não afetou recenseamento em nossa região.
Encontra-se também, não relacionada ao tema, a matéria intitulada RECURSO AO JUDICIÁRIO CONTRA EMENDA CONSTITUCIONAL, que versa sobre a emenda constitucional à Reforma Agrária.