Os "ACERVOS ESPECIAIS" são constituídos por documentos de distintas proveniências, doados à Câmara Municipal de Piracicaba ou, em parceria com outras instituições de memória, que tem seus representantes digitais disponíveis e acessíveis através do sistema da edilidade.
Jair Toledo Veiga foi um dos principais genealogistas de Piracicaba, e também um importante, historiador, intelectual e pesquisador, com vasto currículo, que inclui a presidência do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP). Como pesquisador e entusiasta da história, Veiga recolheu e preservou um vasto acervo, composto por diferentes tipologias documentais, que foram de alguma forma encontradas e salvas por ele da eliminação, destruição, descarte ou esquecimento. O senhor Veiga faleceu em 2003, deixando um legado de pesquisas, documentos e informações coletadas ao longo de sua vida. Parte deste material foi doado a instituições de memória, como o Centro Cultural Martha Watts, que hoje tem um espaço dedicado ao acervo do pesquisador. Outra parte deste material ficou sob custódia de sua neta, Rosália Toledo Veiga Ometto.
Foi Rosália, que em janeiro de 2024, efetivou a doação de parte do material à Câmara Municipal de Piracicaba, oficializada por um “Termo de Doação” firmado entre ela e a edilidade piracicabana.
Gradualmente, todos os documentos doados serão identificados, transcritos, digitalizados e disponibilizados ao público, servindo assim como agentes ativos na preservação e construção da história e memória do município.
Mais informações podem ser encontradas na matéria da Câmara, intitulada “Redescobertos após 20 anos, documentos históricos são doados a Câmara: Material reúne processos judiciais com mais de 200 anos e fazia parte do acervo reunido por Jair Toledo Veiga, pesquisador faleceu em 2003” https://www.camarapiracicaba.sp.gov.br/redescobertos-apos-20-anos-documentos-historicos-sao-doados-a-camara-64065
A série “Tribunal do Júri – Benedicta” é constituída por documentos que envolvem um processo crime que tem como ré uma escravizada de nome Benedicta. Benedicta é acusada de assassinar seus 3 filhos, uma menina e dois meninos. O processo está completo, sendo composto por 39 itens documentais, envolvendo desde a denúncia do crime até a sentença final da acusada.
Esta sequência documental, ultrapassa os limites de um processo crime e de um tribunal do júri, e escancara a realidade de um período da história brasileira: a escravidão. Por esse motivo incluiu-se na introdução do índice o texto “A Ré Benedicta”, de autoria de Gabriel Tenório Venâncio, estagiário de história do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo, que foi responsável pelo trabalho de descrição e transcrição de todo o processo. Em palavras próprias e em primeira pessoa, Tenório discorre sobre todo conteúdo dos documentos, inserindo a sensibilidade que o tema merece.
Sem títuloCapa do processo do tribunal do júri. Em tal se tem a informação da data: “1867” e o nome “Benedicta, escrava”.
Auto do processo crime. Neste, consta a seguinte redação manuscrita: “(...) em meu cartório autuo o processo que o adiante segue-se. Eu Manoel Alves Lobo, escrivão do júri, o escrevi”.
Auto do corpo de delito dos cadáveres de Barbara, Joaquim e Jeronimo. Autuado em 21 de janeiro de 1867, pelo escrivão Júlio César de Oliveira.
Comunicado declarando o falecimento dos menores Barbara, Joaquim e Jeronimo, citados como assassinados pela mãe: uma mulher escravizada de nome Benedicta. Consta também o seguinte despacho: “Proceda-se o auto de corpo de delito nos três cadáveres (...) intime ao Doutor Eulálio da Costa Carvalho e o farmacêutico Augusto Cesar de Oliveira para servirem de peritos”.
Citação ao perito e juramento por parte de Bento Barreto do Amaral Gurgel para ser curador de Benedicta. Documento assinado por Bento Barreto do Amaral Gurgel.
Nota sobre a prisão de Benedicta, assinada pelo carcereiro Antônio João Pires. Tem-se também cópia da citada “nota de culpa” dada a Bento do Amaral Gurgel.
Auto do corpo de delito do corpo de Barbara, de seis anos de idade, no qual respondem questões como a causa da morte. Consta que tal foi consequência da aplicação de um golpe com um “corpo contundente” na região da nuca, e que a morte foi imediata. Documento redigido pelo escrivão Júlio Cesar de Oliveira e assinado por: Joaquim Antônio d’Oliveira, Eulálio da Costa [Carvalho], Augusto Cesar d’Oliveira, Manoel Jose Lopes [Manavalhas], [Tibúrcio] Jose de Almeida Lara, e Júlio Cesar de Oliveira.
Obs: Há um possível erro no escrivão na datação do documento. Na transcrição tem-se “Ano de nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e sessenta e seis”.